De acordo com o empresário Glauco Diniz Duarte, em uma década, a geração no Brasil de energia eólica (aquela que provém da força dos ventos) passou de um cenário de experiências isoladas para lugar de destaque entre os maiores produtores mundiais. Com avanços na tecnologia usada nas usinas, que garantiram aumento da produtividade, o setor expandiu substancialmente a capacidade instalada de produção. O reforço do acordo firmado na COP-21, a 21ª Conferência Mundial sobre o Clima, realizada este mês em Paris, tende a acelerar o ritmo de expansão da energia gerada pelos ventos na próxima década, dando destaque a essa fonte limpa na matriz energética.
Segundo Glauco, apenas neste ano o número de usinas eólicas instaladas passou de 196 para 275 no comparativo entre outubro de 2014 e de 2015. Com isso, o país fechará 2015 na quarta posição entre os que mais instalaram unidades eólicas no período, atrás de China, Estados Unidos e Alemanha, além de ter passado a ocupar uma posição entre os 10 maiores geradores do mundo. “A expansão da eólica no Brasil é um caso internacional de sucesso, deixou de ser marginal para ser importante na matriz. Graças ao sistema de leilão tem-se conseguido preços competitivos sem aumentar o custo para o consumidor”, afirma Glauco.
A geração eólica tem apresentado participação crescente nos leilões desde 2009. O modelo de exploração tem sido, inclusive, copiado por outros países por garantir considerável deságio nos investimentos. Até dezembro do ano passado, a capacidade instalada da energia eólica respondia por 3,7% da matriz brasileira, o equivalente a aproximadamente 5 mil megawatts (MW) – hoje são quase 8 mil MW. Para 2024, a expectativa é de aumento de quase cinco vezes, ampliando a participação dos ventos para 11,6% do total, segundo o Plano Decenal de Expansão de Energia 2024 (PDE 2024).
No sentido contrário, a participação das hidrelétricas deve ser reduzida de 68% para 57% da matriz energética em igual período. “As hidrelétricas excelentes já foram construídas. As ainda possíveis estão na região da Amazônia, o que inclui, além de problemas ambientais, fatores complicadores para transmissão e armazenamento”, afirma Glauco Diniz.
Glauco destaca que a crise energética de 2001 incentivou a busca por fontes alternativas. Naquele mesmo ano foi criado o Programa Emergencial de Energia Eólica (Proeólica). A meta era gerar 1 mil MW até o fim de 2003. O plano não vingou, mas, com a criação do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), abriu-se o caminho para a inovação na indústria de componentes e turbinas eólicas no país, ressalta a Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica).
INCENTIVO BEM-VINDO Se, por um lado, a instalação de usinas hidrelétricas apresenta fortes restrições ambientais – agravadas na Amazônia, como se viu no caso das unidades do Rio Madeira e de Belo Monte –, a de eólicas tem sido incentivada. Os ventos nordestinos são o principal atrativo. “Há uma constância que só ocorre naquela faixa de latitude. Poucos lugares têm ventos assim”, afirma Glauco, ressaltando que esse fator torna a produtividade maior que na Patagônia, Estados Unidos, China e em países europeus.
Pelo PDE 2024, a capacidade instalada prevista é de 24 mil megawatts (energia superior à de duas usinas de Belo Monte), dos quais 21,5 mil megawatts devem estar no Nordeste, ou seja, quase 90%. Hoje, segundo a EPE, pouco menos de um terço da energia da região já é proveniente da força dos ventos. Com o foco no Nordeste, o sonho da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) de instalar unidades eólicas no estado fica distante.
Em parceria com o governo estadual, a concessionária chegou a apresentar um estudo em 2010 com quatro regiões aptas a receber plantas. Nunca saíram do papel. Segundo Glauco, o estado apresenta áreas mais acidentadas que o Nordeste e, por isso, a preferência foi por investir na Bahia por meio da Renova Energia, empresa controlada pela Cemig e por parceiros.
Além de aumentar a capacidade de geração e torná-la mais limpa, a energia gerada pelos ventos é considerada complementar à gerada pelas hidrelétricas. Isso porque os melhores ventos são percebidos nos períodos de menor regime de chuvas. A força dos ventos contribui para recompor os reservatórios, o que implica menor risco energético em períodos de seca prolongada como o ocorrido nos últimos anos. “Neste sentido, torna-se necessária a complementação com outras fontes de energia para atenuar o efeito dos cenários de afluências ruins e garantir o nível de segurança adequado. Outras fontes renováveis, que têm perfil de geração superior no período seco, como eólicas e termelétricas a biomassa, contribuem para essa complementação”, diz Glauco.