GLAUCO DINIZ DUARTE – Geração distribuída é alternativa para melhorar o setor elétrico
O que aconteceria se indústrias, varejo e até as residências pudessem gerar sua própria energia e vender o excedente? Como seria um sistema integrado, onde pequenos e médios geradores de energia solar, eólica, biomassa e cogerações pudessem ofertar energia limpa, eficiente e a um custo competitivo? Essa mudança de paradigma é um dos caminhos para o setor elétrico brasileiro, atualmente excessivamente concentrado nas grandes centrais hidrelétricas e térmicas.
Os benefícios são muitos: com a proximidade entre os centros de produção e os de consumo, a perda energética é menor. Com isso, ganha o consumidor pela qualidade e segurança maior no seu fornecimento, com menor risco de sofrer interrupções, além dos ganhos ambientais ao evitar as construções de extensas linhas de transmissão.
A geração distribuída tem crescimento potencial no Brasil e já foi autorizada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em 2012, viabilizando a implementação de projetos de micro e mini geração de energia. Hoje, porém, das mais de 10 mil conexões, menos de 18% são em empresas. Mas o que já é realidade e pode ser colocado em prática pelas indústrias? Uma das soluções que despontam no cenário comercial é o da cogeração.
Nesse modelo, há o aproveitamento das fontes de energia para mais de uma finalidade. Uma fábrica pode investir em aproveitamento térmico e elétrico, por exemplo, instalando equipamentos como motores e turbinas. Os gases de escape do motor ou a turbina contêm calor que pode ser utilizado como fonte térmica para suprir outras demandas, como geração de vapor, aquecimento de água ou mesmo para uso em refrigeração. “Esse é um exemplo de sistema de cogeração, aliado ao conceito de eficiência energética. Já é uma realidade no Brasil, mas pode acontecer muito mais se a gente tiver mais estrutura e incentivos”, afirma Guilherme Mattos, diretor da área de Energia Distribuída da Siemens. Entre os benefícios da cogeração está o aumento da confiabilidade da energia e da redução de custos. “Com o que a empresa economiza, ela consegue gerar mais lucro ou aumentar a competitividade do que está produzindo”, diz.
AUTONOMIA PARA AS EMPRESAS
Uma vantagem da geração distribuída é a possibilidade de a própria companhia administrar a energia que produz e consome. Em uma indústria, essa gestão dos recursos se traduz em menores custos e na adoção de medidas que trazem mais qualidade e eficiência energética para a planta. Trocar equipamentos, redesenhar sistemas de iluminação e melhorar a logística de entrada e saída de cargas para operar em horários nos quais há economia de energia estão entre as possibilidades.
“Em alguns países, como o Japão, já existem setores dentro das empresas dedicados ao acompanhamento da utilização de energia. Em Tóquio, as fábricas contam com um energy manager, espécie de gerente de controle da eficiência energética”, compara Alexandre Moana, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco).
A eficiência do sistema energético também aumenta porque a geração distribuída descentraliza a produção de energia e a coloca mais próxima dos centros de consumo. No modelo centralizado atual, a energia produzida sofre muitas perdas desde a geração até chegar ao consumidor final – seja uma indústria de grande porte, seja uma residência. Coma descentralização, esses buracos na rede podem ser reduzidos.
SMART GRID = GESTÃO INTELIGENTE
Outro ponto-chave para um sistema energético mais eficiente é a implantação do Smart Grid, os sistemas inteligentes de controle e distribuição de energia. É a partir deles que dados de consumo e geração podem ser cruzados. “O conceito Smart Grid reúne tecnologias de automação, comunicação e TI, inserindo inteligência na rede de energia”, explica Guilherme Mendonça, Vice-Presidente Sênior da Divisão Energy Management da Siemens no Brasil.
A tecnologia também ajuda a melhorar os níveis de equalização e proteção do sistema, por meio da supervisão e do controle das usinas de geração e das cargas conectadas à rede inteligente. Como na geração distribuída a fonte geradora de energia será também consumidora, a instalação das redes inteligentes é necessária para haver controle desse fluxo bidirecional.Tanto para a concessionária, quanto para o cliente, é preciso ficar claro quanto o consumidor usa da sua própria energia, e quanto consome e coloca na rede.
DESCENTRALIZAÇÃO PERMITE A ENERGIA MAIS CONFIÁVEL
Avanços no setor elétrico dependem da evolução de um novo paradigma energético, no qual a descentralização tem um papel fundamental. O assunto foi abordado na palestra de um especialista em Renováveis e Desenvolvimento Sustentável. O investimento em geração distribuída e em uma rede inteligente oferecem a possibilidade de empresas e consumidores diminuírem custos e aumentarem a segurança energética. Para o País, os ganhos estão na redução de emissões de poluentes e maior confiabilidade da rede elétrica, como mostrou o especialista durante sua palestra.
“As futuras normas e regulamentações no Brasil vão ter um papel importante para apoiar as empresas brasileiras na descentralização de energia. Estudar as ferramentas de regulação de outros países também ajuda. O desafio será facilitar o interesse das empresas e não o interesse das grandes companhias fornecedoras de energia”, disse o especialista.