GLAUCO DINIZ DUARTE Leilão de 14 parques solares no Ceará movimenta R$ 2,1 bi
Após amargar o insucesso nos leilões de energia renovável promovidos pelo governo federal no fim do ano passado, o Ceará conseguiu emplacar 14 projetos da fonte fotovoltaica no certame promovido pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) na manhã de ontem (4), que deve resultar em mais energia daqui a quatro anos. O resultado foi o maior entre os estados participantes do leilão e significa a injeção de mais 390 megawatts (MW) de potência à capacidade do Estado e movimentou um total de R$ 2,10 bilhões em investimento.
A contratação correspondeu às expectativas do consultor em energia João Mamede Filho, que apontava o sucesso das contratações de projetos de usinas solares momentos antes do leilão. Outra expectativa positiva diz respeito à melhor conectividade do sistema elétrico no Ceará, que deve contar com mais linhas de transmissão.
“A expectativa é que tivesse uma participação muito grande do Ceará, em função do relatório da Chesf (Companhia Hidrelétrica do São Francisco) sinalizando a grande melhora no sistema até 2022. O sistema vai receber grandes linhas de transmissão, subestações e, com isso, o sistema no Estado vai ficar capacitado a receber muitos parques”, afirmou o consultor.
O empresário Lauro Fiúza, presidente do Conselho da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), afirmou “olhar o Ceará como um lugar fértil para colocar investimento” ao destacar o retorno do Estado como “um participante efetivo desse setor” de energia renovável. “Nós perdemos oito anos de absoluta paralisia, que não viu essa indústria como fator importante do desenvolvimento econômico. Nessa nossa paralisação, estados como a Bahia, Rio Grande do Norte, entenderam que desenvolver parques eólicos é um fator importantíssimo para o desenvolvimento econômico e partiram para a frente e descobriram minas de vento superiores a nossa e partiram na frente para assumir a liderança”, observou, citando o Rio Grande do Norte como exemplo, após a elevação da capacidade deles ser maior que o dobro da força dos ventos do Ceará.
Enel compra energia
De um total de 17 concessionárias de energia, a Enel participou do leilão da CCEE comprando megawatts/hora (MW/h)por três delas, incluindo a do Ceará. A antiga Coelce contratou 5,185 milhões de MWh, enquanto que as empresas de Goiás (5,783 milhões de MWh) e Rio de Janeiro (5,39 milhões de MWh) também adquiriram cotas no certame. A maior compradora foi a Coelba, do grupo Neoenergia, adquirindo 8,83 milhões de megawatts-hora (MWh), dos 54,094 milhões negociados no certame. A Elektro, do mesmo grupo, adquiriu outros 5,65 milhões de MWh.
O grupo Equatorial também figurou entre as compradoras, com Celpa, com 4,78 milhões de MWh, e Cemar, com 3,25 milhões de MWh. Destaque, ainda, para o grupo Energisa, que por meio de sete de suas distribuidoras adquiriu 10,6 milhões de MWh. Completam a lista Celesc D, Cosern, e Eletroacre.
Preço surpreende
Os preços praticados no leilão de energia nova A-4, realizado CCEE surpreenderam o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Luiz Augusto Barroso. Ele salientou que a energia contratada, com um deságio médio de 59,7% em relação ao preço teto estabelecido, deve contribuir para a modicidade tarifária e ainda corroboram com a visão de que as fontes renováveis alcançaram um amadurecimento que permitirá uma mudança no modelo de contratação, como pretende a gestão atual do governo.
“Fecha com chave de ouro a gestão do ministro”, acrescentou Barroso, referindo-se ao fato de que o titular do Ministério de Minas e Energia (MME), o pernambucano Fernando Coelho Filho, deve deixar o cargo até a próxima sexta-feira (6) para disputar as eleições de outubro deste ano pelo PSB.
Contratações
O leilão contratou 298,7 MW médios de energia de 39 empreendimentos, em sua maioria (29) fotovoltaicos. O preço médio dessa fonte no certame foi de R$ 118,07/MWh, o que corresponde a um deságio de 62% em relação ao valor máximo estabelecido. Foram contratados 4 parques solares, a um preço médio de R$ 67,6/MWh, um desconto de 73,5% ante o preço-teto para a fonte. Barroso salientou que o preço dessas duas fontes em dólares – US$ 35/MWh solar e US$ 20/MWh eólico – ficou em linha com o que vem sendo observado no mercado internacional, o que demonstra que a fonte no Brasil alcançou maturidade.
“Amadurecimento das fontes permite uniformizar e dar mais isonomia entre tecnologias”, disse, referindo-se ao fato de que o governo pretende a partir do próximo leilão passar a contratar novos projetos pela modalidade “quantidade”. Conforme definiu o superintendente da EPE, esse movimento significa transferir ao gerador o risco com um eventual déficit na produção de energia, em relação ao volume compromissado. Hoje esse risco é assumido pelo consumidor.