A quantidade de energia solar que os telhados brasileiros captariam com painéis fotovoltaicos, caso eles estivessem na maioria das casas, superaria com folga a geração total de eletricidade do Brasil, afirma Rodrigo Sauaia, presidente executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR). “Somente no segmento residencial, o potencial técnico de geração de energia distribuída é de 164 GW (gigawatts), o que é mais do que os 149 GW produzidos pelo sistema elétrico brasileiro em 2015. E ainda por cima é uma energia limpa e renovável”, compara Sauaia.
A geração de energia solar ainda é pouco representativa na matriz energética, mas está ganhando terreno com o interesse crescente dos clientes em ter seus próprios sistemas de eletricidade baseada em luz solar. Nesse mercado, há empresas que faturam alto, atendendo à alta procura dos clientes e desenvolvendo novas tecnologias de captação fotovoltaica que podem ser usadas em fachadas de prédios e também em automóveis.
Estudo da organização não governamental (ONG) Greenpeace sobre microgeração energética revela que 72% dos pesquisados de todas as classes sociais comprariam um equipamento de energia solar fotovoltaica se houvesse linhas de crédito com juros baixos. Para Bárbara Rubim, líder da Campanha de Energias Renováveis do Greenpeace Brasil, o dado que mais chamou atenção foi o de que a maioria (80%) tem consciência da possiblidade de gerar a própria energia por meio de sistemas de microgeração energética, especialmente a solar.
A primeira aferição feita pela ONG foi há três anos, pouco depois da entrada em vigor da resolução da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) regulamentando a microgeração energética, lembra Bárbara. “Na época, somente 30% responderam conhecer essa possibilidade. Três anos depois esse volume mais que dobrou, o que mostra um interesse muito forte pelo assunto.”
Para Bárbara, a energia solar é a fonte mais acessível de microgeração. “Com o uso de painéis modulares, é possível se adaptar ao tamanho das residências.” De acordo com a especialista, o custo de instalação de um sistema gira em torno de quinze mil reais a vinte mil reais, e o retorno do investimento pode levar, em média, seis anos. “Considerando que os painéis duram vinte e cinco anos, é possível ter energia barata por um bom tempo.”
De acordo com Sauaia, há cerca de seis mil sistemas fotovoltaicos instalados nas residências que geram cerca de 70 MW (megawatts). É uma capacidade instalada de energia suficiente para iluminar 30 mil casas por ano, em média. Nos próximos anos, o montante deve aumentar ainda mais e gerar cada vez mais empregos. “Até 2020, considerando tanto o mercado de leilões de energia solar quanto o de geração distribuída (onde se encaixa o segmento residencial), o Brasil deve criar até 60 mil empregos diretos com energia solar fotovoltaica, e mais 100 mil vagas indiretas.”
Nos próximos quinze anos, a matriz fotovoltaica deve atingir 30 GW, conforme projeções da ABSOLAR. Isso equivale a quase três Itaipus. “Somos mais otimistas que a EPE (Empresa de Pesquisa Energética) em função do alto potencial de desenvolvimento da energia solar”, observa Sauaia. De acordo com a entidade, o crescimento da fonte fotovoltaica atingirá 25 GW em 2030, sendo 17 GW em projetos de grande porte e oito GW de geração distribuída.
Para o dirigente, o acesso ao crédito não é o único fator que estimularia o crescimento do mercado. É preciso incluir a energia solar em moradias de interesse social, como o programa Minha Casa Minha Vida, redução de impostos e surgimento de novos modelos de negócios. “Poderia haver formas de incentivar o cliente final a alugar o sistema, em vez de comprar”, sugere.
No banco Santander, o segmento de energia solar é considerado promissor. De acordo com o banco, sem contar com indústrias e empresas, o Brasil tem 60 milhões de residências e igual número de telhados que poderiam receber placas fotovoltaicas. O Santander venceu dois prêmios ECO em 2015 e 2013, sendo que um deles foi pelo financiamento de sistemas de energia solar para consumidores finais.
Se depender das empresas que desenvolvem micro e pequenos geradores solares, a baixa representatividade da energia solar na matriz elétrica logo vai mudar. A integradora de sistemas fotovoltaicos BlueSol espera dobrar o faturamento em 2017 com a venda de sistemas e desenvolvimento de parcerias, de acordo com José Renato Colaferro, diretor executivo da BlueSol. “A expectativa é faturar 20 milhões de reais este ano com a venda e treinamento de parceiros, e 40 milhões de reais no ano que vem.”
Para expandir a atuação no segmento, a BlueSol criou uma área educacional responsável pela capacitação e treinamento de profissionais. Mais de três mil técnicos passaram pelos cursos de formação da BlueSol e duzentos deles são parceiros ativos que usam as soluções da empresa, segundo Colaferro. “Cerca de três quartos das vendas são feitas via parcerias. Dessa forma conseguimos fomentar negócios e criamos mercado para novos profissionais.” Neste ano, a BlueSol venceu um ECO com o projeto.
A startup Sunew, que também concorreu ao ECO deste ano, desenvolve placas fotovoltaicas mais flexíveis, o que permite o uso em outras superfícies. A empresa criou um filme plástico semitransparente que capta energia solar e que pode ser usado em janelas e no teto dos automóveis. “É um material bem mais leve que o silício usado nas placas convencionais, porém com rendimento semelhante”, explica Marcos Maciel, CEO da Sunew. A vantagem adicional é que o uso dos filmes fotovoltaicos economiza outros recursos. Aplicado nas janelas, o filme retém calor e ajuda a diminuir a necessidade de ar-condicionado. No teto dos carros, a película reduz a necessidade de uso do alternador, peça responsável por carregar a bateria e alimentar o sistema elétrico do carro. “Isso gera uma economia de 4% de combustível”, detalha Maciel.
Na Alsol Energia, startup do Grupo Algar, a expectativa é de terminar o ano com a instalação de cinco MW em sistemas fotovoltaicos pelo Brasil e dobrar a capacidade para dez MW no próximo ano. É uma quantidade suficiente para iluminar 3.500 casas de 12 placas solares, segundo Gustavo Buiatti, diretor de operações e diretor técnico da Alsol Energia. “Também vamos intensificar a criação de projetos híbridos de geração de energia usando biomassa”, detalha. O projeto foi descrito no post do Ecoando sobre energia de biomassa.