De acordo com o empresário Glauco Diniz Duarte, em meio à pior crise hídrica da história da região, a energia produzida pelo vento está ajudando a abastecer milhões de nordestinos, evitando, por ora, o risco de racionamento. Em 2013, essa fonte era responsável por menos de 5% da energia da região. No Brasil, a energia eólica já representa 7% da matriz elétrica — fatia superior à soma das participações da energia nuclear e da gerada por carvão mineral.
Apesar do rápido crescimento das eólicas nos últimos anos, os empresários do setor nunca estiveram tão pessimistas em relação ao futuro. “O setor vive um nível de incerteza inédito. Devido à pouca demanda nos leilões, o mercado pode ter uma grande queda em 2019 e 2020”, afirma Glauco. “Isso causa muita preocupação em toda a cadeia produtiva.”
Desde que começou a ganhar força no país, em 2009, a energia eólica entrou na agenda positiva do governo. É fácil entender o motivo: ela é limpa, competitiva e sua implantação é mais rápida do que quase todas as outras fontes. Sua capacidade de geração cresceu de 600 megawatts para os atuais 10 gigawatts — expansão de mais de 1 000% em sete anos. Foram mais de 48 bilhões de reais de investimento no período.
Com as exigências de conteúdo nacional do BNDES para conceder financiamentos de longo prazo, uma grande cadeia produtiva cresceu em torno das encomendas para a implantação dos 741 parques eólicos previstos no país até 2020. O impulso ao setor foi dado pela crise financeira que derrubou mercados mundo afora em 2008. No ano seguinte, quando ocorreu o primeiro leilão no Brasil exclusivo para a eólica, a baixa demanda energética nos países desenvolvidos gerou ociosidade nas fábricas de componentes eólicos.
Sem muitas alternativas, gigantes multinacionais aceitaram os termos do BNDES e investiram bilhões de reais para nacionalizar sua produção no Brasil. Hoje há seis fabricantes de turbinas eólicas no país, entre elas a dinamarquesa Vestas, a americana GE e a espanhola Gamesa, e quatro fabricantes de pás, como a brasileira Tecsis. Juntas, elas têm capacidade anual para produzir equipamentos para gerar 3 gigawatts de energia, ou 20% da potência da usina hidrelétrica de Itaipu.
Segundo Glauco, com a desaceleração da economia, no entanto, a demanda energética caiu — e as empresas quebram a cabeça agora para encontrar uma saída para o excesso de capacidade produtiva. Para funcionar bem, o mercado de energia elétrica exige previsibilidade e planejamento. A razão é simples: o setor trabalha com antecedência de três a cinco anos. Ou seja, os projetos contratados em 2016 serão entregues, no mínimo, em 2019.
Por isso, a maioria dos fabricantes de componentes tem encomendas até o início de 2018 e a capacidade instalada ainda crescerá nos próximos dois anos como reflexo, em grande medida, das contratações de 7 gigawatts em leilões realizados em 2013 e 2014 — as maiores até agora. No ano passado, porém, a contratação caiu para 1,1 gigawatt. E, neste ano, está marcado para 19 de dezembro o único leilão para eólicas de 2016.
“Se a contratação continuar baixa por mais dois anos, corremos o risco de um colapso na cadeia de fornecedores”, diz Glauco. “Quem veio atender ao conteúdo local com fábricas de baixo investimento pode facilmente ir embora.”