GLAUCO DINIZ DUARTE Energia eólica pode crescer muito mais com novos leilões
O setor de energia eólica já é responsável por 7% da matriz energética brasileira. No fim de 2016, o setor chegou com 10,74 GW de capacidade instalada. Segundo a ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica), foram gerados mais de 30 mil postos de trabalho em 2016 e o investimento no período foi de US$ 5,4 bilhões. Já em maio de 2017 a capacidade é de 11 GW e mais de 440 parques.
Para atingir esses números, nos últimos seis anos, o investimento feito pelas empresas da cadeia produtiva de energia eólica, que já 80% nacionalizada, foi de R$ 48 bilhões. De 1998 até hoje, já foram investidos cerca de R$ 60 bilhões. De acordo com a ABEEólica, os investimentos são calculados em relação aos MW instalados. “De 2017 a 2020, por exemplo, estimamos um investimento total de cerca de R$ 50 bilhões, considerando o que está previsto para ser instalado com os contratos que temos até agora (7 GW)”, pontua a Sandro Yamamoto, Diretor Técnico da ABEEólica.
Mas para continuar crescendo e investindo, o setor precisa da realização de leilões. A indústria brasileira de energia eólica avalia a situação, com a falta de contratação há apostas no mercado de que algumas empresas terão de fechar em breve suas unidades locais. “Com uma cadeia 80% nacionalizada e sem contratação pela primeira vez em 2016, existe sim a possibilidade de uma grave crise com fechamentos de empresas caso não se reverta a situação com realização de leilão em 2017”, explica o diretor da ABEEólica .
Mas, o Governo sinalizou o setor com a realização de leilão ainda para 2017. “No 6º Encontro de Negócios, o Secretário de Planejamento do Ministério de Minas e Energia (MME), Eduardo Azevedo, garantiu que haverá leilão em 2017. Este leilão é imprescindível para manutenção da cadeia produtiva de energia eólica, além de claro, ser necessário contratar energia”, pontua Yamamoto.
O último leilão dedicado ao setor foi realizado apenas em 2015, com a comercialização de 548 MW. Em 2016 foi promovido o 1º Leilão de Energia de Reserva, na ocasião, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) cadastrou 802 projetos, nos quais 693 eram de fonte eólica, totalizando 17.131 MW de capacidade instalada. Entretanto, foram habilitados somente projetos com geração de energia hidrelétrica, entre Pequenas Centrais Elétricas (PCHs) e Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGHs).
Os entraves
Segundo a ABEEólica, a existem no Brasil usinas que foram contratadas, mas que, por motivos diversos, podem não entrar em operação e, então, há sobra de contratos que, na prática, não vão necessariamente se transformar em energia. “Por isso, mecanismos como o Mecanismo de Compensação de Sobras e Déficits (MCSD) e Leilão de Descontração são tão importantes, para auxiliar uma visão real do que vai entrar em operação”, explica Yamamoto.
O MME explica que a sistemática para descontratação está prevista para ser realizada no dia 31 de agosto. A sistemática do leilão, segundo a Portaria MME nº 200, de 18 de maio de 2017, que estabelece a aceitação de propostas para três produtos de fontes distintas: eólica, hidrelétrica e solar fotovoltaica. São elegíveis para a participação do leilão os empreendimentos de geração cuja energia tenha sido contratada em Leilão de Energia de Reserva e que não tenha iniciado operação em teste. No período de 30 dias antes da data do Mecanismo, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) divulgará a relação de todos os empreendimentos de geração que poderão participar do processo.
Outra dificuldade é a alta velocidade do crescimento das energias renováveis e a demora no aumento das redes de transmissão. “No Brasil este entrave já foi pior em comparação a um passado recente”, explica o diretor da ABEEólica. Há poucos anos, por volta de 2012, para participar de um leilão, o parque não tinha a necessidade de se garantir a transmissão. Agora ainda há cerca de 3% de parques sem transmissão. Para evitar a falta de infraestrutura, o modelo de leilão foi alterado, mas para as entidades que representam as energias renováveis ainda nos falta capacidade de transmissão.
Um artigo publicado recentemente no MIT Technology Review mostra que países como Alemanha, China, Índia e Austrália estão enfrentando problemas por falta de transmissão. Na Alemanha, por exemplo, a rapidez para implantação de parques eólicos, especialmente no Norte, é maior que a capacidade de construir linhas de transmissão. Recentemente, o país teve que pagar aos produtores de energia para que diminuíssem sua geração eólica porque as linhas estavam cheias. Índia e Austrália estão ambas sob pressão para construir mais linhas para que possam efetivamente sustentar os planos de desenvolvimento das renováveis.
Para ajudar a encontrar uma solução no problema no Brasil, a ABEEólica contratou um estudo para analisar todo o sistema de transmissão do País, seus entraves e saídas viáveis. O material que ainda está em produção será compartilhado com órgãos do governo, estudiosos e governantes para que se amplie o debate técnico e lúcido sobre o assunto. “É preciso, por exemplo, considerar que o planejamento de transmissão e sua implantação levam mais tempo que o de energias como a eólica e, portanto, precisam começar antes, demandando maiores investimentos e riscos”, finaliza.