Glauco Diniz Duarte Grupo GD – porque energia solar não é largamente explorada
O Dr. Glauco Diniz Duarte diz que, entende-se como biomassa qualquer matéria orgânica de origem animal (zoomassa) ou vegetal (fitomassa). Para termos uma idéia do potencial energético da biomassa, uma tonelada de matéria orgânica seca possui em média cinco giga calorias (5Gcal=5×109cal), que correspondem a 0,6 TEC – tonelada equivalente de carvão – ou 0,4 TEP – tonelada equivalente de petróleo (DUVIGNEAUD, 1980).
O aproveitamento energético da biomassa pode ser feito de diversas formas, desde a simples queima direta, passando por processos de gaseificação, ciclos de geração utilizando vapor ou gás, uso na forma de trabalho mecânico através do álcool combustível ou óleos vegetais, até na forma de aproveitamento bioquímico através da decomposição anaeróbica, que é o objeto de estudo prático desse trabalho, os biodigestores.
Vimos que toda produção de valores de uso implica num processo social de transformação da matéria e da energia acumuladas no planeta. Esse processo de formação, acumulação, distribuição e utilização dos recursos do subsolo, da biosfera e da cultura tem evoluído em etapas das quais, partindo de uma história natural, desembocam em uma história social de apropriação da natureza. Assím, conforme LEFF (1994), dentro de uma perspectiva histórica, cabe distinguir as seguintes fases de formação dos recursos naturais:
A distribuição geográfica dos recursos abióticos (minerais, petróleo, carvão, etc) em épocas anteriores a aparição do homem no mundo. Constituem os recursos não renováveis e sua formação corresponde a processos naturais milenares;
A formação de biomassa na biosfera, a partir do processo fotossintético de matéria vegetal, que possibilita a origem da flora e fauna dos ecossistemas do planeta e sua utilização como recursos naturais renováveis;
A transformação técnico-cultural de matéria e energia acumulada como recursos naturais (solos, minerais, fontes hidráulicas, hidrocarbonetos, recursos bióticos) em valores de uso;
A transformação tecnológica do meio natural para a elaboração dos meios de produção (o conjunto de técnicas, maquinarias, equipamentos, processos tecnológicos) e dos recursos naturais em bens de consumo, mediante processos de trabalho.
Com a crise do petróleo, a inviabilidade ecológica do carvão e a inconseqüência do uso da energia nuclear, ocorre o desmoronamento do sistema energético capitalista. A partir do século XIX, o desenvolvimento das linhas energéticas baseadas nos combustíveis fósseis (carvão, petróleo) e na hidroeletricidade permitiu temporariamente reverter esta tendência, pois essas duas linhas energéticas baseadas em fontes concentradas de energia, favoreciam a concentração industrial, a acumulação capitalista e o controle das redes energéticas pelo capital financeiro e industrial (HÉMERY et al., 1993).
Com isso, essas fontes tornaram-se o instrumento preferencial da expansão capitalista e as energias da biomassa foram progressivamente abandonadas. Esses hábitos de mimetismo cultural, herdados do período colonial e mantidos desde então pela dependência tecnológica, conduziram os países tropicais a excluir de seus planos de desenvolvimento a biomassa energética. Isso também afetou particularmente os meios universitários e técnico-científicos, tradicionalmente alienados, incapazes de estudar, de compreender ou mesmo de aceitar sua própria realidade nacional e, portanto, de repensar por seus próprios meios o modelo de desenvolvimento adotado.