Glauco Diniz Duarte Grupo GD – porque a energia solar é pouco utilizada no brasil
Segundo o Dr. Glauco Diniz Duarte, quem subir no telhado de um dos 22 prédios do Spazio Parthenon, empreendimento da construtora MRV localizado na região da Pampulha, na capital mineira, vai se deparar com um cenário ainda pouco usual para a maioria dos brasileiros. No topo de cada um dos edifícios, foram instalados 75 painéis solares – um total de 1,65 mil equipamentos em todo o complexo. O sistema gera 53 Megawatts (MW) de energia por mês, capacidade suficiente para abastecer todos os 440 apartamentos do condomínio, além das áreas comuns. Para os moradores, a tecnologia garante uma economia na conta de luz de cerca de R$ 90 por mês.
O projeto de geração fotovoltaica do complexo, que demandou um aporte de R$ 1,5 milhão, é o exemplo mais recente de um investimento maciço da MRV na energia solar. “É quase uma cláusula pétrea que implantamos na empresa”, afirma Rafael Menin, copresidente da MRV. “Queremos entregar todos os novos imóveis com energia solar e cada vez com um número maior de painéis.” O plano da construtora, elaborado em meados do ano passado, é investir cerca de R$ 800 milhões, até 2022, na construção de pelo menos 220 mil apartamentos abastecidos com sistemas iguais ao do Spazio Parthenon. A meta, a partir do ano que vem, é que todos os lançamentos da companhia possuam a tecnologia. Neste ano, 75 imóveis, ou 60% do total que será lançado, já terão placas solares no telhado.
A jornada da MRV faz parte de uma onda de investimentos em energia solar, capitaneada por grandes empresas e que tem avançado no Brasil nos últimos três anos. Estimativa da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltacia (Absolar) mostra que o setor privado e as residências investiram R$ 1,9 bilhão desde 2012 no mercado. “É um movimento recente, mas as empresas estão buscando cada vez mais a geração solar para alimentar suas instalações”, diz Victor Kodja, presidente do Balcão Brasileiro de Comercialização de Energia (BBCE).
A operadora de telecomunicações Oi é outra que decidiu, recentemente, seguir o mesmo caminho da incorporadora. Em paralelo às suas tratativas para dar andamento a sua recuperação judicial, a empresa está investindo R$ 30 milhões na construção de duas fazendas dedicadas a geração de energia solar fotovoltaica. Localizadas em Capitão Enéas, no Norte de Minas Gerais, e em Januába, no interior do mesmo Estado, as usinas ficarão prontas em setembro deste ano. A capacidade de geração de cada uma é de 5 MW, que serão destinados para abastecer oito mil unidades consumidoras da Oi, entre antenas, torres de telecomunicação e prédios corporativos. O projeto da operadora prevê ainda a construção de outras 15 usinas do mesmo perfil até junho de 2019. Quando todas estiverem em pleno funcionamento, a empresa estima que terá uma redução de cerca de 30% em seus gastos com energia elétrica. “Hoje, despendemos R$ 750 milhões por ano com energia”, afirma Marco Antonio Vilela, diretor de patrimônio e logística da Oi. “Quando todas estiverem funcionando, esperamos reduzir esse valor para algo em torno de R$ 550 milhões.”
Uma das fontes energéticas globais mais limpas e renováveis, a energia solar ainda é pouco utilizada no Brasil. Apesar da vocação do País, que conta com um nível alto de irradiação do sol, de 5,4 quilowatts-hora por metro quadrado, ela corresponde apenas a 0,27% da matriz energética, e é uma fração de países como a China e a Alemanha, que possuem um nível menor de insolação, de 5,0 e 2,5 quilowatts-hora, respectivamente (confira mais no quadro abaixo). “O Brasil está 15 anos atrasado no desenvolvimento da energia solar”, afirma Rodrigo Sauaia, presidente da Absolar. “Precisamos recuperar o tempo perdido.” A boa notícia é que esse quadro deve mudar rapidamente.
Um dos aspectos que tem estimulado o crescimento dos investimentos é o barateamento da infraestrutura. Nos últimos dez anos, o custo para a construção de um sistema completo reduziu drasticamente, caindo mais de 75% no período, diminuindo também o prazo de retorno dos investimentos, que é hoje de, em média, sete anos. Para se ter uma ideia, a instalação de quatro painéis solares com potência de 1,25 MW, que custava cerca de R$ 30 mil em 2015, passou a custar R$ 15 mil. Já as tarifas de energia elétrica das distribuidoras subiram mais de 50% nos últimos dois anos, muito acima da inflação acumulada de 9,2%, estimulando a busca das empresas por alternativas mais baratas.
Somado a isso, houve uma série de mudanças regulatórias que deram impulso para a chamada microgeração e minigeração distribuída, categoria em que os projetos da MRV e da Oi se enquadram. Em 2012, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) autorizou a produção própria de energia de fontes renováveis, permitindo, também, que o excedente gerado fosse repassado para a rede pública em troca de créditos (leia mais no quadro na pág. 47). “A regulamentação foi fundamental”, afirma Sauaia. “Antes dela, não havia um mecanismo para os consumidores aproveitarem a energia excedente.”
Para diminuir esse atraso, diversas empresas, além da MRV e da Oi, estão investindo na geração fotovoltaica. É o caso da locadora de veículos Localiza, que fechou neste ano uma parceria com a Axis Renováveis para utilizar toda a energia gerada por quatro usinas solares da empresa. As fazendas demandaram um investimento de R$ 20 milhões e o prazo de retorno do aporte é de sete anos. A empresa vai iniciar também, no segundo semestre, a instalação de painéis solares no telhado de suas agências de locação e revenda de carros. A meta é que, até o fim de 2019, mais de 490 agências da rede sejam abastecidas com energia solar. Para isso, será necessário construir placas em 60% dessas unidades, e as restantes serão supridas com os créditos da geração excedente. “Queremos tornar a empresa 100% autossuficiente em energia”, diz João Ávila, diretor de operações da Localiza, que calcula que o projeto gere economia de 15% nos gastos da empresa com eletricidade.
Um dos casos mais emblemáticos é o da rede de farmácias Pague Menos, uma das pioneiras no uso de energia solar no Brasil. Em 2014, dois anos após a primeira regulação da Aneel entrar em vigor, a empresa começou a construção de um condomínio solar, no Ceará, em parceria com a Enel Soluções. Hoje, a varejista conta com cinco parques, que abastecem 79 lojas, além de painéis em dois de seus quatros centros de distribuição. O objetivo é que, no segundo semestre de 2019, todas as lojas e centros de distribuição sejam abastecidos com energia fotovoltaica. Na data, a expectativa é que os gastos com conta de luz caiam dos atuais R$ 72 milhões por ano para R$ 60 milhões.
Este ano, a rede já vai economizar R$ 5 milhões. “A energia fotovoltaica é uma das mais limpas e o custo de implantação caiu muito nos últimos anos”, diz Eduardo Dias, gerente financeiro da Pague Menos. “Com isso, conseguimos ser sustentáveis e ainda por cima ter um retorno financeiro interessante.” A combinação de custos menores e uma regulação favorável, que tem estimulado o investimento das grandes empresas, pode colocar o Brasil entre os líderes globais de geração fotovoltaica, dado o seu imenso potencial. A projeção no mercado é que até 2030 a fonte solar represente mais de 10% da matriz elétrica do País.